Agenda de Eventos Feministas em Portugal

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Encarnado

Marta De Baptista

O corpo não deve viver em conformidade com a posição que lhe é oferecida pela sociedade se essa não for a sua escolha. Há uma voz, uma vontade de se expressar. Durante muito tempo as mulheres utilizavam as chamadas “artes domésticas” (costura, bordados, tricot) como forma de se expressarem; nem sempre a sua voz era ouvida e tida em consideração. A performer, situada no centro do espaço que acolhe a instalação, incorpora-se nesse mesmo espaço através dum elemento escultórico - um figurino - unificando-se à cenografia, que se expande pelo espaço cénico. À medida que o tempo passa, o corpo é absorvido pelo seu trabalho, conseguido através de ações repetitivas, intermináveis e sem finalidade útil. A performer utiliza todo o tempo desta apresentação para bordar o seu vestido escultórico à estrutura têxtil que contamina cada um dos espaços escolhidos para esta “manifestação”. No final, está enclausurada no seu próprio espaço que ilustra perfeitamente as limitações impostas ao corpo feminino. Todos os materiais utilizados pertencem à categoria têxtil, pois permitem-nos facilmente criar uma ligação com a mulher, e são manipulados de forma convencional, ou não. Os atos da performer não devem ser encarados com a essência de atos domésticos; devem ser entendidos como uma forma de problematizar.

É um processo longo, repetitivo, com ações mecanizadas que exploram a possibilidade de controlar e deter o fluxo do tempo. Esta performance pode também ser encarada como um elogio aos momentos de pose/repouso, momentos esses que forçam o espectador a confrontar a sua situação. São, inevitavelmente, estabelecidos diálogos entre a vitalidade e a ausência, a introspeção e a autoexposição, entre o ato e o espaço expositivo.

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