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«Afroamazônidas» de Kleber Júnior e José Sena

Apresentação

Afroamazônidas é uma produção fotoperformática gerada pelo encontro dos trabalhos do fotógrafo ativista LGBT/Queer Kleber Júnior e do performer ativista LGBT/Queer José Sena. Kleber já desenvolvia o trabalho fotográfico desde 2014 tendo como foco, primeiramente, imagens e narrativas de si, expressas em seu autorretrato. A partir dessa iniciativa, começou a fotografar outras pessoas, buscando sempre unir o estético ao ânima dos sujeitos que ia fotografando, criando, com isso, imagens e narrativas em torno das vidas das pessoas fotografadas. Em 2018, em decorrência de uma oferenda às entidades “afroindígenas” amazônicas, José Sena passa a sujeito do trabalho de Kleber, produzindo, conjuntamente ao fotógrafo, imagens e narrativas que o exprimem como corpo/vida LGBT/Queer e macumbeiro. Igualmente LGBT/Queer e umbandista, Eva também reúne suas referências num ensaio fotoperformático.

A encruzilhada gerada pelos trabalhos trouxe a debate questões de gênero, sexualidade, raça e religiosidade. Para além das imagens e narrativas tradicionalmente vinculadas a essas categorias (heteronomatividade e cisgeneridade compulsória, racialidade e cultos aos deuses/Orixás de matriz africana e “indígena”) a produção fotoperformática estimula borramentos e misturas dessas referências “indígenas”, africanas, de gênero/sexualidades, o  que potencializa um exercício reflexivo sobre esses corpos e vidas queer contemporaneamente.

Entre matas, mangue, mares e rios do arquipélago Marajoara, José e Eva agradecem, rezam e dançam para entidades, num movimento que recupera referências das reliões de matriz afrobrasileiras ao mesmo tempo em que borra seus limites e deixa ver os trânsitos entre o masculino e o feminino, num exercício existencial pós-colonial, de-colonial, contra-colonial. Embasado por um modo Queer (PEREZ-NAVARRO, 2018) e experimental de fazer intervenções de arte (SENA, 2013; 2016), a exposição fotoperformática reclama, existindo, sua legitimidade num território historicamente marcado pelo apagamento, via genocídio e LGBTfobia.

Artistas envolvidos: Leandro Haick, Mara Tavares, Danieli Pimentel, Xan Marçal, Charleny Favacho, Luana Fontel, Eva Sarmento, Adlely Luiz Pantoja, Kleber Júnior e José Sena.

Resistência ao Genocídio e a LGBTfobia!

Conforme Decreto Nº 30.822, de 6 de maio de 1952, o qual promulga “a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, concluída em Paris, a 11 de dezembro de 1948, por ocasião da III Sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas”, o genocídio diz respeito a “atos cometidos com a intenção de destruir no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”[1].

A tentativa de apagamento dos povos originários do que se chama atualmente Brasil retrata o genocídio implantado pelo colonialismo até os dias atuais (HECK et al. 2005; GOIZ, 2016), uma performance perversa que só pode ser superada por quem sabe dialogar até com a morte: “Para a perspectiva da anscestralidade só há morte quando há esquecimento e para a perspectiva do encantamento tanto a morte como a vida são transgredidas para uma condição de supravivência” (SIMAS; RUFINO, 2018, p.11).

Ao reconhecer a insistente existência do genocídio diante dos corpos e religiões de matriz afrobrasileira (CAMPOS, 2017), e tendo em vista a constatação de que o Brasil é um dos países que mais mata LGBTI+ no mundo (BRASIL, 2018), a exposição mantem o pacto com a ancestralidade afroamazônida, assim como, com as demandas dos gêneros/sexualidades que marcam os corpos e vidas LGBT/Queer.

Aliada às ações da Plataforma Anti Transfobia e Homofobia (PATH) a qual articula uma agenda anual pela causa Queer em Coimbra, a exposição fotoperformática também junta-se às ações políticas do coletivo Vozes no Mundo pela democracia, movimentos que se solidarizam e ampliam nossos corpos em resistências diante da intolerância religiosa, do racismo e da LGBTfobia estabelecida no Brasil e no mundo contemporâneo.

Objetivo 

Mobilizar um espaço de reflexão no âmbito dos debates sobre gênero/sexualidades, raça, espiritualidade/religiosidade e ancestralidade com base em uma exposição fotoperformática a qual borra matrizes hegemônicas ao enunciar narrativas e imagens de corpos, crenças e vidas LGBT/Queer.

Apoio e financiamento

PATH – Plataforma Anti Transfobia e Homofobia (Coimbra/PT), Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC), Vozes no Mundo: frente pela democracia no Brasil e Coletivo KABOCA

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