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NA PELE DELA: Inauguração Exposição Fotografia

“Ninguém nasce mulher, torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, económico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificamos de feminino. Só a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como outro.”
- Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo (1949)

Desde cedo se normalizou a ideia de que só existem duas identidades, masculina e feminina, variando ao longo dos séculos e culturas o papel que cada uma destas identidades desempenhava. Na cultura judaico-cristã, a mulher primordial foi criada como auxiliar do homem, a partir da sua costela e para o complementar. Ser alegadamente incompleto e por definição inferior, foi-lhe associado o conceito de “segundo sexo”, criando em seu redor uma aura de fragilidade e impotência, de inocência paralisante. A ideia foi tão amplamente propagada pela Igreja Católica que moldou as mentes da cultura ocidental, evangelho regulador das normas sociais. Esta evidente dicotomia na percepção e tratamento de homens e mulheres (e a obsessão inconsciente de que só se é homem ou mulher) é causa e consequência da desigualdade que ninguém se atreveu a questionar durante séculos e que, infelizmente, dura até hoje.

Esta normalização forçada de corpos, identidades e papéis sociais continua a ter um efeito profundamente castrador das nossas vivências, em que dificilmente se consegue corresponder aos supostos ideais sociais e que nos obriga a silenciar pessoas (principalmente quem não se identifica com a suposta maioria binária). A desigualdade de género teve, e continua porém a ter, um impacto muito mais perverso e invisibilizador das pessoas que se identificam como mulheres (e todo o espetro infinito do que é sentir-se mulher), daí que seja o foco desta exposição.

Não é incomum que se defendam os valores que consideramos inerentes à nossa identidade cultural mas a cega obediência a regras religiosas permitiu que a mulher não só fosse tida como, mas também se visse a si mesma como menor e menos capaz, resignadamente aceitando a perpétua injustiça. Convencida da sua própria inferioridade, achou-se incapaz de lutar contra ela.

Os resquícios desta colectiva aceitação são ainda dolorosamente evidentes. Quando confrontados/as com a prova de uma igual capacidade para desempenhar tarefas, ainda nos é natural seguir pelo caminho da distinção e hierarquia: um homem não é cozinheiro, é chef; um homem não é costureiro, é alfaiate; um homem não é criado, é mordomo.

Porque o acesso a informação vinda das mais diversas fontes veio confrontar esta geral adesão a conceitos arcaicos, mas também porque vivemos numa sociedade que vê o progresso com suspeita, queremos com este projecto contribuir para o imaginário visual das pessoas espectadoras, criando um quadro de referências ao qual poderá aceder por sua livre vontade. Pretendemos com estas fotografias normalizar o que sempre o deveria ter sido e convidar a audiência a ponderar nestas representações e na necessidade de as expôr em espaço público.

Todas as receitas de vendas da exposição irão reverter a favor da ILGA Portugal, a maior e mais antiga associação que luta pela igualdade e contra a discriminação das pessoas lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexo (LGBTI) em Portugal, com quem tivemos o maior prazer em colaborar para tornar este projecto possível, e porque entendemos que os estereótipos de género são a raiz da homofobia, bifobia, transfobia e interfobia que persistem na nossa sociedade.

@napeledela 

Conceito original e Direcção por Marie Lopes, Fotografia de Mário César Photo, Pós-produção por Axelle Manfrini, Narrativa por Mariana Meireles, Identidade gráfica Solid Dogma, Vídeo de Leonor Bettencourt Loureiro e Neura Media.

https://agendalx.pt/events/event/na-pele-dela/

Links:

Organização:

ILGA Portugal

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